24 setembro, 2010

subitamente morri no teu desamor. dei por mim nas teias da minha habitual demência de só enxergar gentes sem existência aparente...e morri. morri sem me sentir. morri jurando que a tua inebriante solução de genes  não me tornaria a tentar jamais.

16 setembro, 2010

quem nunca morreu várias vezes ao dia ?

Liberto fantasmas a toda a hora, em todos os minutos e segundos. Dores fortes com origem num coração partido, quebrado no meio da rua provocam um mau estar, uma falha na minha coordenação que passa despercebida. Uma boa máscara de ferro sempre auxilia em surpresas aterradoras, onde só falta a presença de um palhaço diabólico com todo o circo assassino. Presos numa espécie de jaula, estes fantasmas aterrorizam o meu espírito, deturpam a minha audição, corroem o meu olhar e comem o coração. A caixa torácica guarda-os exemplarmente bem, não há escapatória possível a este tipo de ferro. Ossos brancos e húmidos, presentes num corpo tão apodrecido pelo desgosto.
Cada batimento do coração é o soluço, o pontapé, gemido do fantasma preso nessa caixa ramificada, musculada. De vez em quando sobem à mente, criando uma imagem temivelmente desconfortável. Umas lágrimas soltam-se em plena avenida, com o Sol a brilhar em cima da minha cabeça, sinto-me tão leve na presença de todos aqueles corpos que caminham ao meu lado. É como se não existissem, cada grito com início nas minhas cordas vocais e destino final no sistema solar não é sentido por ninguém. Como se não existissem, preciso de uma boas mãos que destruam as minhas defesas. Há alguns meses atrás houve alguém que as destruiu, plantou fantasmas de amor, regou, alimentou e desapareceu quando a ampulheta deixou cair alguns grãos de areia. Mal sabia que os meus ossos se restabeleciam, como se o cálcio entrasse numa quantidade em excesso. Não quero ouvir estes fantasmas que provocam um batimento no meu coração, uma ferida de proporções mínimas.
Os fantasmas abraçam-me profundamente, em plena liberdade. São autênticos pássaros que voam desesperadamente ou limitam-se a encarnar uma brisa gélida que envolve o meu corpo e beija a minha boca, secando-a violentamente. E não tenho lábios alheios que limpem esse sangue, suguem as minhas defesas hipócritas. Envolvam-me, fantasmas. Enquanto não tenho companhia, neste dia de Inverno. Não habitam mais o meu coração, soltos como criminosos culpados. Condenar-vos? Nunca. Sinto-me tão leve sem vocês, desfrutem de uma pseudo liberdade. O meu coração vai parando aos poucos mas ainda ouço alguns dentro de mim.
Deixei a avenida. Havia demasiados rostos que podiam observar-me, arrancar-me-iam a máscara de ferro. Derretiam-no e vendiam-no para ter um dinheiro extra, não fosse a crise comer os seres humanos. Mal o meu corpo cai na cama, os fantasmas furiosos explodem o meu coração, devoram-me. A minha pele estremece, os olhos fecham serenamente. Nunca ninguém me amou de uma forma tão violenta, chego a pensar se o amor também pode ser frívolo. Ou o canibalismo. Mas ao colocarem os dentes sobre um pedaço da minha carne, tudo se desvanece. Nada se dissolve, basta desaparecer numa leve brisa. O sangue mancha os lençóis, preciso de ti. Desculpa pedir-te isto mas preciso de uma pessoa em carne e osso ao meu lado. É a última vez que te faço este pedido, sinto-me tão morto sem ti.
Libertar fantasmas não é mais do que uma função essencial para a minha existência.
Quem nunca morreu várias vezes ao dia?

06 setembro, 2010

hoje entraste no quarto e não bateste à porta
foi a primeira vez que não bateste à porta
entraste e atiraste com a roupa para dentro do armário
foi a primeira vez que abriste o meu armário
deitaste-te nua a meu lado
fingi dormi
não tentaste acordar-me
as tuas pernas tocavam as minhas e embriagavam a minha líbido
a ponta dos teus seios desenhava mil encantos na pele das minhas costas e os teus lábios percorriam o meu pescoço sincronizados com a oração da tua respiração
hoje dei por mim a pedir a deus que não permitisse que me masturbasse
hoje foi a primeira vez que as tuas mãos o fizeram por mim

01 setembro, 2010

não suporto mais o odor deste quarto. sinto-me febril. a minha epiderme cobre-se de suores nocturnos e nódoas negras e chagas e sinais do tempo e do destino. sou uma puta triste e apaixonada e não há pior no mundo do que uma puta apaixonada. lembro-me incessantemente do tempo em que percorria a calçada desta cidade sedenta de uns braços que me envolvessem, sedenta de carne humana numa alma animal que me fizesse viver os mil e um pecados da luxúria. um qualquer corpo que me tomasse como um capricho mudo nuns quaisquer lençóis lavados. depois apanhava a roupa do chão, mudava os lençóis e fazia a cama como se nada tivesse acontecido ali, como se tudo aquilo não passasse de um espasmo de insanidade erótico numa realidade imaginária.
mas hoje, hoje o erotismo morreu em mim. morreu quando esta febre crónica se apoderou deste corpo demasiado cansado. hoje tive mil convulsões e náuseas e um ardor tal que desejei largar-te de vez e voltar ao orgasmo fácil numa realidade não tão doentia quanto esta.