25 outubro, 2012

Amor a 1,5


Deixo qualquer tipo de imagem, pintura ou fotografia, no meu espaço pessoal para revelar o meu estado de espírito - esta é uma verdade universal. Sou totalmente a favor das palavras, desprezo a tendência de "uma imagem vale mais do que mil palavras" no meu quotidiano mas hoje desejo colocar os meus dois mil sentimentos incorporados em apenas uma imagem. Não tomo café a esta hora, não queimo a língua com a caneca quente, a que supostamente tinha o meu chá de morango. Ao invés disso tenho uma aula de Públicos da Cultura à minha frente - ensinamentos que coloco na minha mente
à medida que escrevo, liberto palavras para explicar um pedaço da minha alma.

Talvez o amor seja coisa deste Mundo. Se existem outros tipos de amor, desconhecidos à raça humana então alguém que a descubra. Por volta de 1969, as pessoas viram o Homem a chegar à Lua. A evolução da imprensa no século vinte levou a que a imprensa jornalística colocasse a noção de informação entre dois pólos: intelectual e de lucro. Quando é que vão descobrir o antídoto para o amor puro? Em 2013? Longe disso, penso serenamente nesta hipótese. Olho para os meus colegas na sala de aula e penso na minha felicidade - tão elevada que não tenho capacidade de a medir (como se um estado de espírito fosse possível de medir através de réguas ou fita métrica, esses meios tão rudimentares). O amor é coisa deste Mundo. São estas simples palavras que deixo no Expressividade. Hoje as imagens de um abraço, de um beijo nos lábios, de mãos a tocarem-se valem mais do que mil palavras. Um dia invento uma imagem para a confiança.

Chego à conclusão de que coloquei demasiadas palavras para dizer: estou feliz, tão feliz.

13 outubro, 2012

I'm all the fishes in the sea


Seek me out.
Look at, look at, look at, look at me.
I'm all the fishes in the sea.


Com uma chávena cheia de café ao meu lado não tenho qualquer tipo de problema em admitir que me encontro numa felicidade extrema. Um tipo de felicidade que me faz querer descansar profundamente, desejo esse que tenho elaborado ao nível artístico. Na idade dos vinte e um (extremamente jovem, como muitos fazem questão de salientar) já devia ter um pouco mais de juízo, não devia dar ouvido a algumas incertezas que por vezes ousam e teimam em marcar os meus batimentos cardíacos. Não diria que qualquer Homem pudesse afligir-se com sensibilidade - quando colocada em dose exagerada num corpo humano - e sou a primeira prova dessa sensação. Preocupo-me por deitar lágrimas criadas na aura da felicidade ao invés da profunda solidão, ao qual estava habituado nos últimos meses.

As palavras libertadas por um corpo colocado ao fundo do poço, deitado fora por mãos alheias, são mais carregadas de sentimento, de vivência, de profundidade. É essa a condição de todos os artistas, nunca ouvi falar de uma alma extremamente certa, correta e recheada de felicidade a lançar grandes obras literárias - ou então trata-se de uma falta de cultura (talvez seja) - com os raios solares a brilhar nos fios capilares e nos dentes extraordinariamente brancos. O café arrefece na chávena, as palavras continuam a querer sair dos meus dedos e o meu coração continua a bater solenemente por estares neste momento longe de mim. Longe geograficamente, perto espiritualmente. Penso cada vez mais em escrever uma obra-prima sobre a felicidade, a questão que poucos fazem: o que acontece quando se encontra a felicidade, mesmo que essa seja momentânea? Até agora tenho encontrado pedaços desse estado de espírito, normalmente ligados com uma data de validade - como os iogurtes, acabam por azedar depois de um mês - mas apareceu uma alma que teima em continuar ao meu lado, a querer ver os meus defeitos. Os curtos, os extensos, os grandes e pequenos. Quando estou com a tua alma teimo em roer as unhas, em retirar um pouco da minha beleza. Com os dedos recheados de sangue, bebo um pouco de café para acelerar os fluxos da minha alma. É condição de um artista ser belo em dias negros? São tantas as questões que comem o meu coração e tu teimas em ficar comigo. O café queima-me a língua, não o faz às alcoviteiras da minha terra. Essas que gostam de lançar os olhos negros para as minhas andanças, mesmo que suba para uma motorizada e chegue aos 200 quilómetros por hora para ninguém me ver.

Apaixonei-me há algum tempo, tenho a dizer. Não fugi do sentimento quando o senti nas minhas veias, como estava acostumado a fazer. Quis beijar-te, sentir os teus lábios nos meus e a tua língua na minha boca quando comecei a ficar sem oxigénio depois de olhar para os teus olhos claros. Aconteceu-me isso naquele ambiente de festa, em que o calor humano - as chamadas hormonas - andavam pelos ares na capital portuguesa, no Terreiro do Paço. Naquelas luzes em que não quis largar a tua mão, com receio de me perder de ti no meio de centenas de seres humanos. Mesmo quando tudo se resumo a um nós tenho esse receio que invade o meu peito - o de me perder de ti. Todos os meus sorrisos equivalem a uma troca de palavras deste medo - o de me perder contigo - isto escrevo-o nos recantos da minha alma, na minha imaginação assexuada. Com as minhas mãos a rodear toda a chávena branca, sinto o vapor a beijar os meus óculos azuis, a escreverem declarações de monotonia, essas que não pretendem ficar nas minhas ações. Tenho uma aflição cada vez maior com a minha sensibilidade, com as lágrimas de que liberto. São lágrimas de felicidade, meus nobres amantes. Podia gritar ao vento, a minha garganta já estaria morta por esta altura do ano. Quando quis beijar-te no meio de todas aquelas luzes e sons fi-lo, puxei-te para mim e bati palmas aos meus desejos. Apaixonei-me por ti a partir desse momento, um pouco antes ao sentir vontade de pegar na tua mão e levar-te comigo pelas ruas da Bica.

Eras quem desejava conhecer há muitos anos. Não vou conhecer ninguém que me traga tanta felicidade como tu me trazes neste momento, depois de tantos meses a curar-me, a aprender novamente a amar os meus próprios cabelos castanhos, as minhas doces cicatrizes espalhadas pelo meu corpo anorético, consegui redescobrir o antídoto para o único tipo de felicidade: o que me torna louco, livre, belo e altruísta. Bebo o meu café, saboreio com a minha língua ao passá-la pelos lábios e digo-te para procurares um único peixe no oceano - ao contrário da pequena frase que coloquei ao início da minha divagação. Procura um único peixe dourado no meio de todo o oceano porque é esse que amas. Terminei o meu café e vejo-te à minha frente. Vou viver mais um pouco.

03 outubro, 2012

Um apontamento sobre os possíveis regressos,


Se existe uma paragem em qualquer criação de arte, mesmo as progressivas, significa que tenho à minha frente um bom caminho em questões do coração. Trata-se de uma lavagem nos olhos, nos cabelos castanhos, nos lábios degradados graças à nova vaga de frio que sinto ao ir para as aulas às seis da tarde. É uma purificação de todo o meu corpo, esse que se encontra enrola pela minha alma e traz uma nova dimensão à paragem que desenho neste momento às minhas palavras, às personagens que revivem na minha mente todos os dias. A mensagem tem os dois lados da moeda: o bom – o excecional – por ter uma alma brilhante em todos os dias da minha vida, o mau por um artista ganhar toda a sua força nos momentos trágicos, no drama, ao sofrer um derrame no coração. O coração, esse brilhante músculo que tantas vezes já foi tema das minhas longas “palestras sobre o viver bem, ter um relacionamento estável e ter um sorriso no rosto” – essas longas palestras que não davam em nada de ser escritas por não ter dados em concreto, por sentir o frio de um abandono voluntário nas minhas veias.

Esse abandono que não vai existir. Encontra-se inundado de dedicação, de mãos fortes, de cabelos pretos. Esses cabelos pretos que me enrolam as veias e asfixiam-me por não aguentar as famosas borboletas no estômago. Os lábios pequenos que me consomem a cada dia que passa, a cada nova promessa que é libertada durante a tarde. Abdico da minha condição, a minha paixão pela elaboração de história, se te tiver no fim. No fim de uma vida terrena, de uma existência finitiva. E peço, peço todos os dias para que o vivo neste momento seja eterno, que esteja à tua espera quando partir – tenho esta sensação de que vou falecer não muito tarde, chamem-me de louco! Se existe uma paragem é sinal de que o fado alcançou o meu coração. É necessário um novo chamamento, meus caros. Estou a amar, estou a amar – gritei três vezes à janela do meu quarto na grande cidade.