05 janeiro, 2014

A salvação no diário dos desesperados e toda a minha loucura a pregar-me partidas


Salvação, leva-me para os teus braços. 

Existe sempre uma salvação ao virar da esquina para a maioria das pessoas, em épocas de horrores e crises existenciais. A salvação que me vai purificar e transportar-me para o reino dos céus é pura, de uma cor branca, com brilhos e um calor, daqueles ternos que se sentem no nascimento do sol. O sol começa na minha janela e termina novamente na minha janela. Mantém uma distância de segurança, por existir sempre o perigo de ataque da minha parte. Talvez tenha de receio da revolta humana durante a hora da verdade, em que todos vão descobrir a não existência da salvação ao virar da esquina. Nesse momento, num futuro demasiadamente próximo, vão explodir vidros para cortar os mais fracos de carne e proteger os mais fortes de espíritos, numa seleção natural da espiritualidade (ou será, como dizem alguns, da natureza?). Salva-me, preciso desesperadamente de ti para não andar nos ciclos viciosos da minha cabeça. São as tuas palavras que me trazem ao plano físico, no meio de todas as sobrenaturalidades dos meus sonhos. A realidade atinge-me quando estou deitado na tua cama e o toque me apaixona um pouco mais. Dissolve sorrisos por cima do meu corpo e da minha alma, é a experiência que quero colocar em prática.

No momento em que bebo um sumo de laranja, a partir da palhinha preta, sentado à minha janela pressinto a salvação em todas as janelas à minha volta como se a salvação fosse o desejo e cobiça alheia. Desejo pelo meu corpo e cobiça pela minha beleza e boa forma física, essa que só existe nos meus sonhos. Numa realidade em que não existe músculos no meu corpo, sento-me à varanda a tocar nas palavras dos meus livros e a desfrutar dos raios de Sol. À espera da minha salvação, ainda materializada nos meus livros e personificada nos meus desejos ambiciosos. Tudo não passa de uma loucura e a única sanidade são os teus lábios neste ciclo vicioso, em que regresso sempre aos teus braços e os meus cabelos continuam revoltados com a brisa marinha.

Salvação, leva-me para os teus braços. Ainda continuo à procura de Deus, em conversas antes de dormir mas não obtenho respostas às minhas ansiedades.

02 janeiro, 2014

2013


Poderia começar este ano com o novo número, ditador de uma mais um ano a acrescentar à minha idade oficial no momento em que setembro embater na minha carne, nos meus lábios e na minha respiração. Sentir um ano a passar é, só por si, merecedor de agradecimento e de celebrações. Ouço os barulhos e contagens para o novo ano chegar com compreensão, é uma meia noite diferentes de todas as outras ao longo do ano por ser tão especial e física aos olhos das pessoas. Começar este novo mês nos Aliados, no Porto, é uma bênção para o meu coração e para os meus olhos castanhos, cada vez mais abençoados pela clarividência. Ainda sinto o champanhe nos meus cabelos e todos a berrarem de alegria na principal praça do Porto, o amor e a amizade a berrarem no meio da rua.

Retiro a névoa dos meus olhos a cada ano que passa sobre a minha alma e construo cada vez mais um sorriso no meu rosto engelhado, desgastado pela poluição sonora das ruas e da maldade dos outros seres humanos. A maldade que o ano passado me fez ver em cada gesto alheio, cada palavra que ficou por dizer, contactos que ficaram na lista telefónica, esquecimentos que se ditaram fatais para o meu coração. Envelhecer, mesmo aos vinte e dois anos, é uma procura constante. Uma procura pelos sentidos da vida, pelos melhores caminhos a seguir. Trata-se de uma procura pela independência financeira que tarda a aparecer neste país. Juntamente com algumas lágrimas e vibrações de frustração, envelhecer na procura de um emprego e de satisfação profissional enjaula-se na pele e nas mãos, à medida que se percorre as ruas para entrar em edifícios e sentar em salas, onde estão seres humanos prontos a examinar-nos, depois de mais de 1500 candidatos. Demasiados pássaros, a abrirem asas e cantarem, para recolherem o maior número possível de sementes e milho. O vento sopra cada vez mais e os pássaros sentem-se a envelhecer, a ver passar os anos. Os planos para voarem para terras distantes, à procura de uma felicidade eterna, personifica-se cada vez mais, especialmente, em alguns dos meus amigos. Amigos, meus queridos, aos quais quero cuidar das asas mas não consigo. Quero cuidar das vozes brilhantes, prendê-las na comunidade, e não sou nada para o fazer. Sentir o novo ano no corpo equivale a ter esperança nas mãos e usá-la, esperança para ficar, viver, dançar e espantar os maus espíritos.

O ano passado trouxe a mágoa profunda de falhar no campo do amor, do companheirismo, mas fez-me encontrar-te, apaixonar-me e saber que sou merecedor de um bom final. Sei bem que aos 22, ninguém dita um final recheado de boas energias. Estou longe, muito longe de qualquer final da minha vida mas encontro-me numa linha contínua de prazer e amor neste preciso momento. Com os teus olhos castanhos e cabelo encaracolado soube, verdadeiramente, o significado de companheirismo nas minhas acções. Somos, neste momento, uma combinação de um amor claro e brilhante no meio das nossas discussões. Quando dançámos em julho, estava longe de imaginar que desejaria tanto a tua presença. Não há lugar unicamente para queixas, quero entrar neste ano a celebrar afincadamente a entrada do verdadeiro amor nos tecidos da minha alma. É neste momento em que todos os buracos, tecidos pelas traças na minha personalidade, são enterrados. É essa a sensação que tenho no meu sorriso. 

Estou cheio de amor na minha vida e agradeço aos meus pais, a ti, aos meus verdadeiros amigos que ao fim de tanto anos ainda se mantém ao meu lado e aos novos que surgem e constroem lugar no meu coração. Que venha 2014, que me consuma o corpo e me envelheça. Todo um ano é recheado de imagens. Que venham mais, só para mim.